domingo, 23 de outubro de 2011

A Moça do Vestido Verde

Discreta, ela atravessa a rua em linha reta.
Todos os dias a vejo passar no mesmo horário.
O vestido ligeiramente comprido,
cintura no lugar, bolsa na mão.
No pescoço, o cordão e o escapulário.
Ela não olha para os lados.
Para quê?
Mulheres são indecentes, homens safados.
O melhor é fingir que não se vê.
E os camelôs e suas barracas ilegais?
Ela arrisca um olho
seduzida pelo barulho colorido,
mas logo se arrepende e não olha mais:
seu recato não permite resvalar o proibido.
Ontem, a moça do vestido verde deu um encontrão
no rapaz de bigodinho, pasta, perfume, colarinho;
o conteúdo da bolsa espalhou-se pelo chão.
Constrangido, ele ajudou a moça do vestido,
pediu desculpas, beijou-lhe a mão.
Hoje, eu a vejo passar na hora certa.
A bolsa, a cintura no lugar, a postura ereta.
Ela pára, olha para os lados, retoca-se no espelho.
A moça segue radiante. O vestido é vermelho.

                                                Por : Flora Figueiredo .

Depressão

Á força,  arrancada a farsa,
 a pétala se esgarça em trapos,
 a nuvem desmancha-se em fiapos,
 a sombra afasta-se do escuro e se dilui .
Engolfa a terra os despojos escondidos do cenário que rachou mal-sucedido,
pela falência do sorriso que já foi .
                    Por : Flora Figueiredo .

Insônia

Silêncio .
Madrugada .
Rua Vazia .
Uma lua branca de linho estendida no escuro , sobre o nada .
Num momento insone , conversam confidentes Presente , Passado e Futuro .
Um pensamento corta o espaço versejando o esmo .
Escuto Passos : é meu coração abrindo a porta de mim mesmo !
                       Por : Flora Figueiredo .